Página:Guerra dos Mascates (Volume I).djvu/119

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eu não posso ver matar aos meus semelhantes. No fim de contas sou cristão, antes de ser mercador; e uma vila de mais ou de menos na terra não é razão para se estar a gente a comer como cães esfaimados!

Tendo neste solilóquio enérgico feito sua declaração de voto, o nervoso mascate barafustou pela casa adentro, meio peremptório de impedir a réplica do frade e assim melhor se convencer da verdade do próprio dito.

O reverendo o acompanhou com um olhar de zanga:

— Se todos forem deste jaez, estamos aviados. É cada um ir tratando de arrumar a trouxa e deixar a terra aos senhores dela. Perder a melhor ocasião!

— O reverendo, então, acredita que os de Olinda fazem o levante!

— Pois este papel? perguntou o padre surpreso.

— André de Figueiredo, bem sabe o reverendo, que é de todos o mais empenhado contra o Recife. Foi ele quem encomendou o manifesto ao licenciado Davi de Albuquerque, que o ditou, e eu tirei a jeito esta cópia, quando o passava a limpo.

— Então?

— Olhe, sr. padre, pelo voto dele, amanhã