Página:Guerra dos Mascates (Volume I).djvu/133

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velhice prematura fizeram-na beata: deixaram-lhe a supremacia espiritual.

Quando a vi de primeira vez, transiram-me o silêncio e melancolia que a habitavam. Pareceu-me penetrar o vasto âmbito de um templo cristão. Tal era o profundo abatimento de Olinda, que não podiam reanimá-la a inexaurível jovialidade e o habitual rumor da colônia acadêmica, então para ali rejeitada.

Naquela tarde de 11 de outubro de 1710 resplandecia Olinda entre os fulgores do ocaso. A rósea vez das nuvens refletia na branca fachada dos edifícios, e algumas chispas do último raio do dia abrasavam os coruchéus das torres. Ao meio da rua principal que se prolonga pelo dorso da montanha, e então como hoje se chamava de São Bento, do mosteiro situado em frente, sobressaíam as outras duas casas nobres, da melhor aparência naquele tempo.

Tinham sobrado ambas, com janelas de sacada, revestidas de altas cortinas de rótulas, pintadas de vermelho. A primeira, mais larga e de cinco portas, pertencia ao Capitão-Mor João Cavalcanti, pessoa da melhor nobreza de Pernambuco. A outra, de três portas somente, era da propriedade e residência do Capitão André Dias de Figueiredo, morador dentre os principais de Olinda.