Página:Guerra dos Mascates (Volume I).djvu/197

Wikisource, a biblioteca livre

fitaram no vulto de Nuno, que atado ao formidável chanfalho e coberto pela enorme cervilheira, fazia uma figura grotesca. As risadas estrugiram pelo âmbito da sala de envolta com o tinir da louça e dos cristais.

Susteve Nuno impassível e sem pestanejar o fogo rolante daquela estrepitosa gargalhada, ainda que por seu gosto preferia afrontar uma descarga de mosquetaria.

Afinal, passado o frouxo de riso, veio a curiosidade de saber por que artes aparecera ali aquela estrambótica figura; e voltou-se a atenção para o Lisardo que, aproveitando a hilaridade, tratava de esgueirar-se pela copa, onde contava achar os remanescentes da opípara ceia.

— Oh! Lisardo! Não nos dirá onde foi desencavar este palerma?

— Querem ver que é algum fedelho dos flamengos, que ai ficou enterrado no mangue!

— Mais parece um bugio armado em guerra!

— Ora qual! É o Pança do D. Quixote do nosso Lisardo! Pois não sabiam! Enquanto assim os convivas trauteavam o nosso poeta, ele estava sobre espinhos; e não se animando a abrir a boca, encolhia-se de modo que parecia querer sumir-se dentro de si próprio.