Página:Guerra dos Mascates (Volume I).djvu/202

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e que portanto se podem escrever em viagem, sobre a perna, ou num canto da mesa de jantar.

Não sucede o mesmo com um romance histórico, e ainda mais em nosso país onde as fontes do passado nos ficaram tão escassas, senão muitas vezes exaustas.

Para decrever a nossa sociedade colonial é necessário reconstrui-la pelo mesmo processo de que usam os naturalistas com os animais antediluvianos. De um osso, eles recompõem a carcaça, guiados pela analogia e pela ciência.

O escritor que no Brasil tenta o romance histórico, há de cometer antes de tudo essa árdua tarefa de recompor com os fragmentos catados nos velhos cronistas a colônia portuguesa da América, tal como ela existiu, a separar-se de dia em dia da mãe pátria, e já preparando o futuro império.

Imagine o leitor a cópia de livros de que tem de cercar-se o autor; o isolamento a que deve sujeitar seu espírito a fim de identificá-lo com esses órgãos do passado; a leitura incessante que lhe é necessária para saturar-se da antiguidade que se exala dos velhos alfarrábios.

Isto não se faz em viagem, e ainda menos em viagem de terra, pelos caminhos que temos, e com as pocilgas que às vezes servem de pouso aí por esse interior.

Bem saudades levava eu dos meus personagens da Guerra dos Mascates, com os quais me habituara a