Página:Guerra dos Mascates (Volume I).djvu/21

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de papel, que o escritor pernambucano, jurando na palavra do escrivão, qualificara de maço de cédulas e como tal fora visto por várias pessoas; era nada menos do que um tesouro.

Era o manuscrito de uma crônica inédita da Guerra dos Mascates. Devorei o cartapácio e desde logo fiz tenção de o tirar a lume, espanando-lhe de leve as roupagens do estilo, que me pareceram um tanto poentas. Só agora, no remanso destas férias, à sombra de umas jaqueiras que sem dúvida competem com as faias virgilianas, se pôde levar a cabo a grande empresa; e não sei como, lá se meteram pela velha crônica uns cerzidos ou remendos de estofo moderno, que seguramente lhe tiram seu ar carrança, o melhor sainete do manuscrito.

Esta advertência, bem se vê que era imprescindível, para evitar certos comentos. Não faltariam malignos que julgassem ter sido esta crônica inventada à feição e sabor dos tempos de agora, como quem enxerta borbulha nova em tronco seco; não quanto à trama da ação, que versa de amores, mas no tocante às cousas da governança da capitania.

Pois não lograrão seu intento; que o público aí fica munido do documento preciso para julgar da autenticidade desta verídica história.

Se os tempos volvem como as vistas de uma marmota, e as figurinhas cá do presépio da terra entram para saírem, com os mesmos engonços e geringonças, embora metidas em trajos diferentes; disso não tem culpa o cronista.