Página:Guerra dos Mascates (Volume I).djvu/68

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figura sombria e estrambótica, a inspirara o carinho da profissão, que de ordinário cria os melhores operários do espírito como da matéria.

De quando em quando por um gesto rápido passava pelos beiços a unha polegar da mão direita e a esfregava com sofreguidão ao peito da roupeta. Parecia dominado da idéia de umedecer a coroa do dedo, a fim de tirar pelo atrito uma nódoa de tinta, ali permanente desde muitos anos.

Não era pela gola, que atacava a gordura do casco, nem pelos cotovelos roçados no bufete de escrever, que ia-se a roupeta do Pisca-Pisca. Vinha-lhe a ruína do peito, onde trabalhava a unha impertinente. Homem de recursos, pusera em prática todos os meios de vencer o terrível cacoete. Chegara até a amarrar à cinta o dedo rebelde; porém quando a unha lhe começava a comer, e era justamente no meio de suas cogitações, lá se ia o atilhó. Ao dar fé de si, o escrevente via com desespero o brejeiro do dedo tocando viola no peito da roupeta.

No momento em que o avistamos sob o arco do Bom Jesus, vai ele sem dúvida muito preocupado; pois o atrito atingiu sua maior velocidade. Com efeito, assim atravessou a