Página:Guerra dos Mascates (Volume I).djvu/96

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Começa agora um quarto de hora que eu desisto de historiar; um livro era mínimo espaço para descrevê-lo. O célebre quarto de hora de Rabelais, em que a barriga cheia curtia o martírio da bolsa vazia; e aquele outro chamado quarto de hora de pontualidade que, a título de cortesia, suportam os convidados de certos jantares marcados para as quatro e postos às sete; nada disso se compara ao transe referido.

Quero ver contudo se por meio de uma imagem dou ligeira idéia.

Não há quem não tenha visto voar no seu terreiro uma pena de galinha. Ludibrio do vento, o sutil objeto sobe e desce, vai e vem, foge e torna, avança e recua, gira sobre si, pára e move-se, para afinal esbarrar-se contra algum obstáculo.

Pois em vez de pena, imaginem um rapaz enamorado; e ajuntem em alta dose os tremores nervosos, os súbitos calafrios, os suores gelados, de mistura com os repetidos fogachos; e terão uma idéia do que foi o tal quarto de hora de espera para o nosso Lisardo.

Afinal o encontramos na parede do oitão, uma braça distante da janela, e oscilando ainda como uma pêndula entre o desejo de ficar e o ímpeto de fugir.