Página:Guerra dos Mascates (Volume I).djvu/98

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uma estrela e passá-la por um crivo bem fino, pudera eu pintar a trepidação graciosa de uns olhos negros por entre a rótula.

Esquecia-me advertir. Olhos para rótula deviam de ser negros. Os azuis, querem-se límpidos, serenos e desnublados, como os puros céus de uma alma angélica. Os outros, castanhos, pardos, verdes ou gázeos, que arranjem-se como puderem e melhor lhes for; porém, escusam de ter saudades da rótula.

Eram pois uns olhos negros, do mais belo negro, que se coavam pela rótula do oitão.

A princípio derramaram-se em torno; mas logo recolheram para se atirarem ao mancebo, como uns punhados de alfinetes. Devia de ser assim realmente, porque o pobre Lisardo sentiu o rosto a fervilhar.

Tão flexível antes, qual folha de cana, estava agora o nosso poeta estatelado à parede e rijo como estafermo. Fincava as costas ao muro, a ver se podia sumir-se por ele adentro; os olhares esparramados pelo mato fora tinham jeito de disparar; e de certo houveram já deitado a correr por aí além, caso não estivessem amarrados ao poste.

Os olhos negros e os dedinhos brancos cuidaram que os não tinha percebido o poeta. Abriu-se um cantinho à rótula; tornou logo a