Página:Há uma Gota de Sangue em Cada Poema.pdf/26

Wikisource, a biblioteca livre

Olha agora. A alvorada
começa de brilhar nos longes glabros.
Perto, galhos de arbustos sonolentos,
onde a luz se dissolve na orvalhada,
são como verdes candelabros,
confortando-lhe os últimos momentos...

Estira os braços... Os odores,
em revoada puríssima e louçã,
sobem, cantantes, multicores,
cheios da fôrça nova da manhã...

Êle pudera ouvir, caindo,
quando o estilhaço lhe rasgara o abdômen,
as joviais ovações dos seus soldados,
e, na fugida, os inimigos dizimados,
e os seus, em fúria, os perseguindo...
– E não restara um homem.

Depois, reviu os seus, a procurá-lo,
– altos lamentos pêla noite clara...
Por pouco o não pisara
a pata dum cavalo!
Quis gritar, mas não poude. E, único gesto
que abriu, foi um desfiar de lágrimas, silente;
e, olhos febris, rosto congesto,
viu seus hulanos
partirem tristes, tristemente...

24