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achasse; livre, corremos o maior risco, mesmo tu; todos, emfim. Que rasões daremos para explicar este acto sanguinario? Taxar-nos-hão de imprevidentes, a responsabilidade toda caírá sobre nós; dirão que deviamos ter isolado esse insensato, mas era tão grande a nossa affeição, que não comprehendemos o que a prudencia nos aconselhava. Obrámos como um homem atacado de um mal vergonhoso, que para guardar segredo deixa enraizar-se esse mal e destruir toda a seiva vital. Onde está Hamlet?

A RAINHA

Pondo em logar seguro o cadaver d'aquelle a quem deu a morte. No meio mesmo da sua demencia, conserva-se pura e intacta a sua intelligencia, como um metal precioso encravado em rocha bruta. Rebenta-lhe o pranto ao lembrar-se da acção que commetteu.

O REI

Saiâmos, Gertrudes. Quando o sol tocar o cume das montanhas, já Hamlet deverá ter embarcado; logo em seguida partirá para Inglaterra. Quanto a esta odiosa acção precisâmos achar na nossa auctoridade e no nosso engenho alguma desculpa que a releve aos olhos do mundo. Olá, Guildenstern? (Entram outra vez Guildenstern e Rosencrantz.)

O REI (continuando)

Meus amigos, procurem pessoas que os ajudem e auxiliem. Hamlet, na sua demencia, matou Polonio, cujo cadaver levou para fóra da camara de sua mãe. Tratem de descobrir onde o occultou, encarrego-os d'esta missão. Nada digam que possa irritar Hamlet, e levem o corpo do infeliz Polonio para a capella; peço-lhes só que se aviem. (Sáem Rosencrantz e Guildenstern.)

O REI (continuando)

Vamos, Gertrudes, convoquemos os nossos mais doutos amigos, demos-lhe a conhecer o nosso designio e a desgraça acontecida. Precavendo-nos d'este modo, talvez a calumnia, que arremessa o seu dardo envenenado de uma extremidade do mundo á outra, e cujos tiros são tão certeiros, como os do mais perfeito canhão, poupe o nosso nome, perdendo-se na immensidade do espaço. Saiâmos d'aqui. Na minha alma não sinto senão perturbação e terror! (Sáem.)