Página:Hamlet - drama em cinco actos.pdf/108

Wikisource, a biblioteca livre

recompensas e o poder real. Mas, no fim de contas, taes officiaes prestam ao monarcha relevantes serviços, são para elle como o fructo que o bugio conserva na bôca para depois o engulir; quando necessitar do que tem arrecadado, espreme-os como uma esponja, e ficarão completamente enxutos.

ROSENCRANTZ

Não comprehendo, senhor!

HAMLET

Estimo muito. As palavras do traficante só tem por domicilio os ouvidos do tonto.

ROSENCRANTZ

Diga-nos onde está o cadaver, e siga-nos á presença do rei.

HAMLET

Onde está o rei existe um corpo, mas o rei não está n'esse corpo. O rei é uma creatura.

ROSENCRANTZ

Uma creatura, senhor?

HAMLET

Uma creatura que nada vale! Conduzam-me á sua presença. Vamos jogar as escondidas. (Sáem todos.)


SCENA III
Uma sala no castello
Entra o REI com a sua comitiva
O REI

Mandei chamar Hamlet e procurar o cadaver. Que perigo deixar livre um tal homem; mas não podemos fazer pesar sobre elle todo o rigor das leis. A multidão insensata estima-o, decidindo-se mais pela vista do que pela rasão; n'estas circumstancias o que devemos pensar é o castigo dos culpados, nunca o crime só por si. Para prevenir qualquer descontentamento é forçoso que este precipitado exilio pareça consequencia de madura reflexão. Para males desesperados