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O REI

Este resultado enche-nos de satisfação; quanto ao pedido, lel-o-hemos, e depois de maduramente examinado, responderemos. Agradecemos-lhes os seus valiosos serviços. Descansem agora; juntos ceiaremos logo. (Voltimando e Cornelio sáem.)

POLONIO

Felizmente está terminado este negocio. Senhor e senhora; discutir o que constitue a auctoridade, e em que consiste a obediencia dos subditos, porque a noite é noite, o dia é dia, e o tempo é tempo, seria perder sem proveito a noite, o dia e o tempo; por isso, visto que a concisão é a alma do espirito, emquanto que a prolixidade é só o corpo ou o involucro exterior, serei breve: Vosso nobre filho está louco, digo louco, porque haveria falta de rasão em querer definir o que constitue verdadeiramente loucura. Passemos adiante...

A RAINHA


Menos estylo, Polonio.

POLONIO

Senhora, não faço estylo, juro-o. Seu filho está louco; é triste, mas é verdade. É verdade que é uma lastima, mas é uma lastima que seja verdade; é uma estulta antithese, mas tal qual é acceite-a; não emprego arte. Está louco; resta-nos procurar a causa d'esse effeito, ou antes defeito, porque forçosamente a deve ter. Siga bem o meu raciocinio: Tenho uma filha, tanto a tenho, que me pertence. Minha filha, fiel ao dever e á obediencia que me deve, note bem, entregou-me este escripto. (Mostra um papel.) Reflicta e depois tire a conclusão. (Lê.) Ao idolo da minha alma, á celeste Ophelia, á belleza personificada... É uma desgraçada e estulta expressão. Conserva preciosamente estas linhas, no teu seio alabastrino...

A RAINHA

É de Hamlet a Ophelia.

POLONIO

Espere um momento, senhora, cito textualmente. (Lê)

Duvida que do céu a abobada azulada
Tenha espheras de luz de um magico esplendor,
Duvida seja o sol o facho da alvorada,
Duvida da verdade em tua alma gravada,
Mas não duvides nunca, oh! nunca, d'este amor.