Página:Helena.djvu/130

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porta, trazendo o seu presente, numa bocetinha de joalheiro.

D. Úrsula não tinha, decerto, o instinto da arte; mas o amor da família lhe ensinara uma estética do coração, e essa bastou a fazê-la admirar o trabalho de Helena.

— Mas que digo eu todos os dias? exclamou D Úrsula. Esta pequena sabe tudo!

— Quase tudo, emendou Helena; ignoro, por exemplo, como lhes hei de agradecer...

— O quê, tontinha? interrompeu a tia. Algum disparate, naturalmente, impróprio em qualquer dia, mas muito mais ainda no dia de hoje.

Enquanto as duas senhoras foram tratar das disposições do dia, Estácio mandou selar o cavalo e saiu. Queria comparar ainda uma vez o desenho de Helena com o sítio copiado. A fidelidade era completa, e o quadro seria absolutamente o mesmo, se se dessem algumas circunstâncias da primeira ocasião. Helena não ia ao lado dele; mas a vinte braças de distância flutuava a bandeira azul da casa do alpendre. Estácio afrouxou o passo do cavalo, como saboreando as recordações da primeira manhã, quando Helena se lhe mostrara tão singularmente comovida. Volveu a refletir na situação dela, e na paixão que lhe confessara, dias antes, com tamanha veemência.