e curiosa do sapatinho raso que ela trazia. A atitude convinha à beleza melancólica de Helena. O rapaz olhava para ela sem movimento nem voz.
A tarde expirava; a cor verde do morro fronteiro ia tomando o aspecto cinzento-escuro que precede a cor fechada da noite. A própria noite desceu, e um escravo entrou na varanda a acender as duas lâmpadas que pendiam do teto. Esta circunstância acordou a moça, e bastou-lhe voltar um pouco a cabeça para ver o amigo de Estácio a alguns passos de distância.
— Estava aí? perguntou Helena, estremecendo.
— D. Úrsula não voltou, respondeu Mendonça com timidez; não quis interromper a leitura que a senhora fazia.
— A leitura? A leitura acabou há muito tempo.
— Mas também se lê de cor.
Helena lançou-lhe um olhar suspeitoso.
— Não sei ler de cor, disse ela, erguendo-se e saindo da varanda.
Mendonça ficou aturdido. Que lhe dissera ele tão grave que a pudesse ofender? Repetiu as próprias palavras e não lhes achou sentido mau. Certo, porém, de que a molestara, ali ficou aborrecido