dever de vizinho... Pareceria que o senhor mo pagava com um benefício. O benefício seria menos espontâneo de sua parte e menos agradável para mim. Agradável não exprime, talvez, toda a minha idéia; mas o senhor facilmente compreenderá o que quero dizer.
— Entendeu-me mal; o meu óbolo não seria na espécie a que o senhor alude. Tenho amigos e alguma influência; poderia arranjar-lhe melhor posição...
O desconhecido refletiu um instante.
— Aceitaria? perguntou Estácio.
— Estou pensando na maneira de recusar. Ouro é o que ouro vale. Eu vexar-me-ia eternamente de dever qualquer melhora da sorte ao cumprimento de um dever de caridade.
— Já me não admira a vida pobre que tem tido.
— Excessivo escrúpulo, talvez?...
— Escrúpulo desarrazoado.
— Antes demais que de menos.
— Nem de menos nem demais; mas, só a porção justa.
— A porção varia, conforme as necessidades morais de cada um. Mas eu mesmo, que lhe estou a falar, nem sempre tive esta virtude intratável; e porventura alguma vez fraqueei...
A fronte do desconhecido tornou-se sombria; a