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peço-lhe ao menos que espere a presença do padre Melchior. Eu não poderia dizer duas vezes as mesmas coisas; seria revolver o punhal na ferida.

A curiosidade de D. Úrsula cresceu com estas meias palavras do sobrinho; mas era forçoso esperar, e esperou. Foi dali ao quarto de Helena. Como a porta estivesse fechada, espreitou pela fechadura. Helena escrevia. Esta nova circunstância veio complicar as impressões de D. Úrsula.

— Helena está encerrada no quarto, e escreve, disse ela ao sobrinho.

— Naturalmente, respondeu este, com sequidão.

O padre Melchior não se demorou em acudir ao chamado de Estácio. O bilhete era instante e a letra febril. Algum acontecimento grave devia ter-se dado. A reflexão do padre era justa, como sabemos; ele o reconheceu desde logo, não só no aspecto lúgubre da família, como na ânsia com que era esperado. Os três recolheram-se a uma das salas interiores.

— Helena? perguntou Melchior.

— Vamos tratar dela, respondeu Estácio.

Referir o que se passara naquela fatal manhã era mais fácil de planear que de executar. No momento de expor a situação e as circunstâncias dela, Estácio sentiu que a língua rebelde não obedecia à intenção. Achava-se num tribunal