Página:Helena.djvu/295

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abandono. Um dia, dirigi-me para São Cristóvão, disposto a empregar a violência, contanto que trouxesse Helena ou fosse dali para o aljube. Era à tardinha. Aproximei-me do jardim de Ângela, ouvi a voz de minha filha. Era a primeira vez depois de longos meses! Parou-me o sangue todo. Passado o primeiro abalo, caminhei cauteloso, encostado à cerca; Helena falava a alguém. Por uma abertura da cerca, pude espreitá-la. Estava ao colo de um homem. Esse homem era o conselheiro. Olhei para um e outro; ora para o meu rival, ora para a minha Helena. Helena acariciava as barbas dele; este sorria para ela com um ar de ternura, que o absolvia quase da ofensa a mim feita. O coração, porém, apertou-se-me, ao ver dar a outro afagos a que só eu tinha direito. Era um roubo feito à natureza; mas, se meu próprio sangue me repudiava, que podia eu exigir de alheios corações? Daí a algum tempo, — não sei se foi curto ou longo, porque eu ficara a olhar para ambos, pasmado de amor e de cólera, ouvi que falavam de mim. "Mas, olhe, dizia Helena, papai quando vem?" O conselheiro deu um beijo na menina, e falou de uma borboleta que nesse momento pairava sobre a cabeça dela. As crianças, porém, são implacáveis; aquela repetiu a pergunta. "Papai não volta", respondeu