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Página:Herculano, Alexandre, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, Tomo II.pdf/117

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sabía cumprir com o que devia a si proprio». — Para arcebispo, D. Martinho esquecera de mais em Roma os preceitos do evangelho. — «Dissimular injurias e deshonras — observava o altivo prelado — é cousa que não fazem senão aquelles que as merecem». — Attribuia a D. Henrique de Meneses as accusações que lhe faziam em Portugal. — «O meu collega — concluía D. Martinho — é excessivamente desconfiado. Não falo, por isso, ao papa nem a ninguem, sem elle estar presente. Ha nisso vergonhas que, concluido este negocio, eu não soffreria, nem ser pontífice. Um de nós ha-de deixar o cargo[1]». — Com a mesma audacia escrevia agora a D. João iii, repellindo as suspeitas de deslealdade. Queixava-se dos enredos da corte e do mau despacho que tinham os seus negocios particulares, consolando-se com a esperança de que um dia elrei lhe faria justiça, conhecendo a sua innocencia, e alludia aos documentos que anteriormente dera da sua lealdade. Mostrava-se insolente, para fingir que era victima dos seus inimigos. — «Não me pesara — dizia — que vossa alteza man-

  1. Fragmento da C. de D. Martinho ao conde de Vimioso de 15 de fevereiro de 1535, no Corpo Chronol., P. 1, M. 54, N.° 77.