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veis[1]. Consta dessa carta que ás exigencias do nuncio os christãos-novos de Lisboa responderam que estavam promptos a pagarem aquillo que por escripto se haviam obrigado; mas que recusavam cumprir as promessas de Duarte da Paz. As instancias, as ameaças, feitas de modo que ficassem as apparencias salvas[2], não poderam fazer-lhes mudar de resolução. Diziam que lhes faltavam os recursos; que o seu agente procedera sem auctorisação; que quizera indispô-los com o papa[3], promettendo cousas acima das pos-

  1. Esta carta, que se acha no Codice do Vaticano 6210, a p. 21, foi transcripta na Symmicta (vol. 2, f. 232) com a data de 1 de março de 1550, quando do proprio contexto se conhece pertencer ao anno de 1536, porque, entre outros indicios, o nuncio allude não só á ida de Carlos v a Roma, como cousa que ainda se esperava, mas tambem ao casamento do infante D. Duarte, que se dizia D. João iii ter em mira fazer, e que effectivamente se realisou em 1537. Duarte da Paz é alli denominado constantemente il commendatore. Escripta com interrupções, vê-se que foi começada a redigir em janeiro, e só se fechou no 1.° de março.
  2. «ne con metterli timore, servato il decoro»: Ibid.
  3. «havea ció fatto per ruinarla con Nostro Signore»: Ibid.