Página:Herculano, Alexandre, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, Tomo II.pdf/350

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rém, d'elrei era cumprir as amplas concessões que fizera, nem a do bispo vir metter-se nas mãos dos seus inimigos. Mentia-se de parte a parte. Após D. Jorge da Silva, saíra de Portugal para Italia um certo capitão Correia, munido de avultadas sommas e acompanhado de soldados e espias disfarçados que seguiam D. Miguel por toda a parte. Esse homem fizera revelações imprudentes ácerca de quem o enviava, e ácerca das ordens que recebera para o bispo ser assassinado[1]. Se acreditarmos o que este depois dizia, aquelle sicario fora assalariado por um dos infantes por ordem d'elrei[2]. Saindo de Plasencia para Bolonha, Correia seguiu-o, persuadido de que elle ignorava as suas intenções. O prelado tinha-se, porém, prevenido, e o assassino andava vigiado. Na carta a elrei, enviada por mão do sobrinho, D. Miguel alludira com arte a esse facto, attribuindo tão indigno procedi-

  1. Risposta de D. Michele, l. cit., f. 100 v. e 101.
  2. «mas ainda alevantou que o Ifante o mandava matar por ordenança de S. A.»: Instrucções sem data, no Mss. de S. Vicente. — No manifesto de D. Miguel da Silva diz-se vagamente que Correia fora mandado por pessoa que assistia aos conselhos do rei.