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oppor á nomeiação de novo nuncio, as quaes chegaram a Roma nos principios de agosto, na conjunctura em que o papa ía partir para Lucca, onde havia de encontrar-se com o imperador, para tractarem de vários assumptos politicos[1]. Era preciso aproveitar o tempo. Numa audiencia que obteve, Christovam de Sousa leu ao pontífice, vertendo-as ora em latim ora em italiano, as instrucções que recebera do seu soberano ácerca da enviatura do nuncio[2]. O papa, acabada a leitura e ouvidas as ponderações do embaixador, ergueu-se visivelmente agastado e, passeiando pelo aposento, repetia o signal da cruz. Na sua opinião, era o demonio quem inspirava

  1. Pallavicino, L. 4, c. 16. — C. de Christ. de Sousa de 9 de dezembro de 1541: Collecção de S. Vicente, vol. 1, f. 149 v.
  2. E curioso o que a este respeito se lê na carta de Christovam de Sousa de 9 de dezembro: «lhe declarey ás vezes em latim ho que me parecia que S. S. não entendia bem; e a necessidade me forçou ha saber ha lingoagem italiana, porque crea V. A. que ametade não emtendem do que se lhe fala em português, e quanto melhor falado he ou escrito muito menos o alcançam, e se quasi ha sustancia do que se escreve tomam, ao menos do primor de bem escrever estam bem longe.»