Página:Herculano, Alexandre, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, Tomo III.pdf/137

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ples de obter avultada colheita. Chegando a qualquer logar onde residissem christãos-novos, mandava annunciar que em tal igreja se havia de fazer uma festa e procissão solemne. Corria o povo ao templo no dia assignalado. Cheia a igreja, elle mandava fechar as portas, e em nome da Inquisição intimava aos fiéis, debaixo das mais terriveis excommunhões, que se no meio delles estavam alguns judeus occultos, os bons christãos lh'os indicassem[1]. Então os desgraçados reprobos do povo eram mandados pôr á parte, e dalli conduzidos para a cadeia, á ordem dos inquisidores[2].

No seu gyro, o implacavel commissario chegou a Miranda do Douro, e esse districto parece ter sido um dos que lhe subministraram mais abundante seara de extorsões e violencias. Foram presos naquella villa onze

  1. «quod quaecumque persona ibi cognoverit christianum novum, ostendat illum.»: Ibid. fol. 312. E' evidentemente uma exaggeração de phrase. Gil não podia exigir que lhe indicassem os christãos-novos para os prender, mas sim os christãos-novos suspeitos de judaismo. E’ provavel, todavia, que em muitas partes o fanatismo tornasse synonimas as duas expressões.
  2. Ibid.