Página:Herculano, Alexandre, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, Tomo III.pdf/167

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outras partes, não pretendiam que as acreditassem sob sua palavra: eram por dezenas as testemunhas que citavam na larga exposição dirigida a D. João iii em nome da gente da nação em 1543, documento solemne, em que ainda luz um resto de esperança na justiça humana. Que pediam elles ao rei? Que practicasse este negocio com os do seu conselho e com os grandes do reino, entre os quaes havia muitas pessoas judiciosas, prudentes, discretas, instruidas e de boa consciencia, mas que não attendesse a homens suspeitos, taes como os frades de S. Domingos, inimigos da raça perseguida, e cujo odio inveterado tinha por incentivo o castigo que D. Manuel dera aos motores dos assassínios de 1506[1]. Queixando-se em especial dos desvarios ferozes do bispo de S. Thomé, solicitavam apenas que se mandasse a Coimbra, á custa dos réus, qualquer individuo de sana consciencia e de alta jerarchia, que se informasse da verdade ácerca de cada um dos aggravos que enumeravam, dando-lhes tempo para provarem plenamente aquillo sobre que restassem duvidas. Apurada a verdade, pe-

  1. Petitio Regi, na Symm., vol. 32, p. 278 v.