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Página:Herculano, Alexandre, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, Tomo III.pdf/188

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tava plenamente provada[1]. Se não cahia no laço e resistia constante a estas importunações prolongadas, levavam-no ao logar do martyrio. Primeiro davam-lhe um tracto de polé. Se, culpado ou não, continuava a affirmar a sua innocencia, retalhavam-lhe as plantas dos pés, untavam-lh'as com manteiga e aproximavam-lh'as do fogo[2]. Ordinariamente, o resultado deste expediente era uma confis-

  1. Ácerca do segredo dos carceres è curiosa a defesa de João de Mello (G. 2, M. 1, N.° 21) em resposta a uma consulta feita por quatro christãos-novos por ordem d'elrei, que adiante havemos de aproveitar. Segundo o honrado inquisidor nada havia mais accessivel do que os carceres. O segredo só durava emquanto não começava o processo (que podia tardar annos) ou quando os réus andavam em perguntas, ou estavam em confissão, ou em outros casos semelhantes, ou para não receberem avisos de fóra, ou para elles os não darem a outrem. De resto podiam falar com quem lhes cumpria. Dir-se-hia que Beaumarchais, descrevendo espirituosamente no Figaro a liberdade de imprensa sob um governo absoluto, tivera por modelo esta singular allegação de João de Mello.
  2. «et quando ea via non possunt, ponunt eos ad torturam funis, et si cum illa non id efficiunt, incidunt sibi plantas pedum, et ungunt sibi cum butiro atque admovent igni»: Excessus Inquisitor. in Civitate Ulixbon., Symm, vol. 32, f. 289 v.