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TRADIÇÃO GALANTE DE D. MIGUEL
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Étuves em Paris. Esta mulher tinha uma vida tão aventurosa quanto escandalosa, e o infante, que não devia ficar extremamente encantado com a boneja, que era feia, pediu-lhe que reduzisse a escripta a autobiographia com que lhe prendera a attenção. A franceza annuiu ao pedido, que o infante provavelmente remunerou, e o autographo foi subtrahido em Vienna aos papeis de D. Miguel, como consta de uma nota. O facto denunciado é vulgarissimo na vida dos principes e dos outros; mas a subtracção de um papel particular, que andava na bagagem de um principe moço, não me parece grandemente abonatoria da seriedade de quem a praticou. D. Miguel, que restituiu á corôa portugueza as joias que usofruiu, não presumia decerto que lhe roubariam as memorias de uma rameira, escriptas por ella mesma, não podendo valorisar-se como joias nem a escriptora nem as memorias.

Refere o opusculo outra aventura do infante D. Miguel em Paris, e esta é mais consentanea á sua indole de principe estouvado e desenvolto.

Deu-se o caso com uma capellista da rua des Fossés-Saint-Germain. A franceza era encantadora: charmante, diz Mesnard. D. Miguel, não fazendo reparo ou não se temendo de um sujeito que estava á porta, e que era o amante da capellista, quiz, como pretexto para demorar-se, que ella deitasse a loja abaixo, que lhe mostrasse muitas das mercadorias guardadas nos armarios. A franceza trepou ao balcão para descer um pacote, e o infante beliscou-a ou