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--Sim, senhor; Romualdo de Souza Caldas.

--Será parente do padre Souza Caldas?

--Não, senhor.

--Bom poeta o padre Caldas. Poesia é um dom; eu nunca pude compor uma decima. Mas, vamos ao que importa. Conto-lhe primeiro o que me succedeu; depois lhe direi o que desejo de Vossa Reverendissima. Entretanto, se me permittisse ir fumando...

Monsenhor Caldas fez um gesto de assentimento, sem perder de vista a bengala que José Maria conservava atravessada sobre as pernas. Este preparou vagarosamente um cigarro. Era um homem de trinta e poucos annos, pallido, com um olhar ora molle e apagado, ora inquieto e centelhante. Appareceu alli, tinha o padre acabado de almoçar, e pediu-lhe uma entrevista para negocio grave e urgente. Monsenhor fel-o entrar e sentar-se; no fim de dez minutos, viu que estava com um lunatico. Perdoava-lhe a incoherencia das idéas ou o assombroso das invenções; póde ser até que lhe servissem de estudo. Mas o desconhecido teve um assomo de raiva, que metteu medo ao pacato clerigo. Que podiam fazer elle e o preto, ambos velhos, contra qualquer aggressão de um homem forte e louco? Em quanto esperava o auxilio policial, monsenhor Caldas desfazia-se em