Página:Horto (1910).djvu/225

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     Vem para mim, alma triste
     Que soluças de agonia;
     No meu seio o Amor existe,
     Eu sou filho da Poesia.”

Meu coração despiu toda a amargura,
Embalado na mística doçura
     Da voz que ressoava...
Presa do Amor na delirante calma,
Eu fui abrir as portas de minh’alma
     Ao Verso que passava...

Desde esse dia, nunca mais deixei-o;
Ele vive cantando no meu seio,
     N’uma algazarra louca!
Que seria de mim se ele fugisse,
Que seria de mim se não ouvisse
     A voz de sua boca!

Não posso dar-te amor, bem vês. Meus sonhos
São da Poesia os ideais risonhos,
     Em lago de ouro imersos...
Não sabias dourar os meus abrolhos,
E eu procurava apenas nos teus olhos
     Assunto para versos.