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este ideal aparentemente admirável, estes tecno fomentadores estão ao mesmo tempo reproduzindo algumas das características mais atávicas da sociedade americana, em especial aquelas derivadas da amarga herança da escravatura. Sua visão utópica da Califórnia depende de uma cegueira voluntária frente a outras — e muito menos positivas — características da vida na costa oeste: racismo, pobreza e degradação do meio ambiente[1]. Ironicamente, no passado não muito distante, os intelectuais e artistas da Bay Area estavam apaixonadamente preocupados com estes problemas.

Ronald Reagan contra os hippies

Em 15 de maio de 1969, o governador Ronald Reagan ordenou à polícia — portando armas — que fizesse um ataque surpresa matinal aos manifestantes hippies que haviam ocupado People's Park, perto do campus Berkeley da Universidade da Califórnia. Durante a batalha subsequente, um homem foi baleado e morto e 128 outras pessoas precisaram de tratamento hospitalar[2]. Naquele dia, o mundo “careta” e a contracultura pareceram ser implacavelmente opostos. De um lado das barricadas, o governador Reagan e seus seguidores defendiam a iniciativa privada irrestrita e a invasão do Vietnã. Do outro lado, os hippies lutavam por uma revolução social em casa e se opunham à expansão imperialista pelo mundo. No ano do ataque surpresa em People's Park, parecia que a escolha histórica entre estas duas versões opostas do futuro da América só poderia estabelecer-se através do

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  1. Ver DAVIS, Mike. City of Quartz. London: Verso, 1990; WALKER, Richard. California rages Against the Dying of the Light. New Left Review, jan/fev 1995; e os discos de Ice T, Snoop Dog, Dr. Dre, Ice Cube, NWA e muitos outros rappers da costa oeste.
  2. KATSIAFICAS, George. The Imagination of the New Left: a global analysis of 1968. Boston: South End Press, p.124,1987.