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tiveram planejamento estatal: eles apenas o chamam de orçamento de defesa[1]. Ao mesmo tempo, elementos chave do estilo de vida da costa oeste vêm de sua longa tradição de boemia cultural. Apesar de eles terem sido posteriormente comercializados, a mídia comunitária, a “nova era”, a espiritualidade, o surfe, a comida saudável, as drogas recreativas, música pop e muitas outras formas de heterodoxia cultural emergiram da cena decididamente não-comercial estabelecida em volta dos campi universitários, comunidades de artistas e comunas rurais. Sem a sua cultura faça-você-mesmo, os mitos da Califórnia não teriam a ressonância global que têm hoje[2].

Todo este financiamento público e envolvimento da comunidade tiveram um efeito enormemente benéfico — apesar de irreconhecido e invalidado — no desenvolvimento do Vale do Silício e de outras indústrias de alta tecnologia. Empreendedores capitalistas frequentemente têm um senso inchado de sua própria capacidade de desenvolver novas ideias e dão pouco reconhecimento às contribuições feitas pelo estado, à sua própria mão de obra ou à comunidade em geral. Todo o progresso tecnológico é cumulativo — depende dos resultados de um processo histórico coletivo e deve ser encarado, ao menos em parte, como uma conquista coletiva. Então, como em todos os outros países industrializados, os empreendedores

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  1. Como o Secretário do Trabalho de Clinton diz: “Lembrem-se de que durante o pós-guerra o Pentágono silenciosamente esteve encarregado de ajudar as corporações americanas a deslanchar com tecnologias como motores a jato, turbinas, transistores, circuitos integrados, novos materiais, lasers e fibras óticas (...) O Pentágono e os 600 laboratórios nacionais que trabalham com ele e com o Departamento de Energia são a coisa mais próxima que a América tem do famoso Ministério do Comércio Internacional e Indústria do Japão”. Ver REICH, Robert The Work of Nations: a blueprint for the future. London: Simon & Schuster, p.59, 1991
  2. Para um relato de como estas inovações culturais sugiram dos primórdios da cena do ácido, ver WOLEFE, Tom. The Electric Kool-Aid Acid Test. New York: Bantam Books, 1968. É interessante que um dos motoristas do famoso ônibus era Stewart Brand, hoje um dos principais colaboradores da Wired.