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americanos inevitavelmente apoiaram-se na intervenção estatal e nas iniciativas faça-você-mesmo para nutrir e desenvolver suas indústrias. Quando companhias japonesas ameaçaram controlar o mercado americano de microchips, os libertários capitalistas da computação da Califórnia não tiveram escrúpulos ideológicos quanto a juntar-se a um cartel custeado pelo estado, organizado para combater os invasores do leste. Até que os programas da Rede que permitiam à comunidade a participação no ciberespaço pudessem ser incluídos, Bill Gates acreditou que a Microsoft não tinha outra opção, senão atrasar o lançamento do Windows 95[1]. Como em outros setores da economia moderna, a questão com que a indústria emergente da hipermídia se depara não é se ela vai ser ou não organizada como uma economia mista, mas que tipo de economia mista será.

Liberdade é Escravidão

Se seus preceitos sagrados são refutadas pela história profana, por que os mitos do “livre mercado” influenciaram tanto os proponentes da Ideologia Californiana? Vivendo em uma cultura contratual, os artesãos hi-tech levam uma existência esquizofrênica. Por um lado, eles não podem desafiar a primazia do mercado sobre suas vidas. Por outro, eles se ressentem das tentativas, por parte daqueles investidos de autoridade, de molestar sua autonomia individual. Misturando a Nova Esquerda e a Nova Direita, a Ideologia Californiana fornece uma resolução mística das atitudes contraditórias sustentadas pelos membros da “classe virtual”. Mais decisivamente, o anti-estatismo fornece os meios para reconciliar

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  1. HAYES, Dennis. Behind the Silicon Curtain. Londres: Free Association Books, p. 21-2, 1989. Ele aponta que a indústria de computadores americana foi encorajada pelo Pentágono a formar cartéis contra a competição estrangeira. Gates admite que apenas recentemente ele percebeu a “massiva mudança estrutural” sendo causada pela Rede. Ver THE BILL GATES Column. The Guardian, 20 jul. 1995.