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Nos EUA, uma grande distribuição da riqueza é urgentemente necessária para o bem-estar econômico de longo prazo da maioria da população. Entretanto, isto vai contra os interesses de curto prazo dos brancos ricos, incluindo muitos membros da “classe virtual”. Em vez de compartilharem com seus vizinhos pobres negros ou hispânicos, os yuppies se retiram para seus afluentes subúrbios, protegidos por guardas armados e seguros com seus serviços privados de previdência social[1]. Os desvalidos só participam da era da informação fornecendo mão-de-obra barata e não sindicalizada para as insalubres fábricas das manufaturas de chips do Vale do Silício[2]. Mesmo a construção do ciberespaço pode tomar um fator essencial da fragmentação da sociedade americana em classes antagonistas racialmente determinadas. Já isolados por companhias telefônicas sedentas de lucro, os habitantes das áreas urbanas centrais pobres são agora ameaçados de exclusão dos novos serviços online pela falta de dinheiro[3]. Em contraste, membros da “classe virtual” e outros profissionais podem brincar de ser ciberpunks dentro da hiperrealidade sem ter de encontrar algum de seus vizinhos empobrecidos. Em paralelo às sempre maiores divisões sociais, outro apartheid está sendo criado entre os “ricos de informação” e os “pobres de informação”. Nesta democracia jeffersoniana de alta tecnologia, a relação entre senhores e escravos resiste sob uma nova forma.

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  1. Sobre o surgimento dos subúrbios fortificados, ver DAVIS, Mike. City of Quartz. Londres: Verso, 1990; e DAVIS, Mike. Urban Control: the ecology of fear. New Jersey: Open Magazine, 1992. Estes "subúrbios gradeados" fornecem inspiração para o cenário alienado de muitas histórias de ficção científica ciberpunks, como em STEPHENSON, Neal. Snow Crash. New York: Roc, 1992.
  2. HAYES, Dennis. Behind the Silicon Curtain. London: Free Association Books, 1989.
  3. STUART, Reginald. Hi-Tech Redlining. Utne Reader, n. 68, Mar/abr, 1995.