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fantasia abandonar em conjunto o "wetware[iii] do estado humano para se tomarem máquinas vivas[1]. Igual a Virek e os Tessier-Ashpools, na literatura sprawl[iv] de Gibson, eles acreditam que o privilégio social vai mais cedo ou mais tarde dotá-los de imortalidade[2]. Em vez de predizer a emancipação da humanidade, esta forma de determinismo tecnológico pode somente conjeturar um aprofundamento da segregação social.

Apesar destas fantasias, os brancos da Califórnia continuam dependentes de seus colegas humanos de pele mais escura para trabalhar em suas fábricas, colher seus cereais, cuidar de suas crianças e cultivar seus jardins. Após os tumultos de Los Angeles, eles cada vez mais temem que esta “subclasse” vá um dia exigir sua libertação. Se escravos humanos não são totalmente confiáveis, então escravos mecânicos terão de ser inventados. A busca pelo Santo Graal da “Inteligência Artificial” revela este desejo pelo Golem — um forte e leal escravo cuja pele tem a cor da terra e cujas entranhas são feitas de areia. Como nas histórias de robôs de Asimov, os tecno-utópicos imaginam ser possível obter mão-de-obra como a escrava por meio de máquinas inanimadas[3]. Porém, apesar de a tecnologia poder armazenar ou amplificar o trabalho, ela não pode nunca remover a necessidade de os humanos inventarem, construírem e manterem estas máquinas em primeiro lugar. Trabalho escravo não pode ser obtido sem escravizar alguém.

Por todo o mundo, a Ideologia Californiana foi aceita como uma forma otimista e emancipadora de determinismo tecnológico. Porém, esta fantasia utópica da costa oeste depende de sua cegueira frente à — e dependência de — polarização social e racial da sociedade em que nasceu, Apesar de sua retórica radical, a Ideologia Californiana é

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  1. Para uma exposição de seu retro-futurismo, ver a FAQ Extropiana. (A página indicada está fora do ar.)
  2. GIBSON, William. Neuromancer. London: Grafton, 1984; GIBSON, William. Count Zero. London: Grafton, 1986.
  3. ASIMOV, Isaac. I, Robot London: Panther, 1968; ASIMOV, Isaac. The Rest of the Robots. London: Panther, 1968.