Página:Inspirações do Claustro.djvu/8

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to mal.

Não importa.

Nos países eminentemente ilustrados não aguarda-se mais pelo juízo da posteridade. Vivendo-se, goza-se já do nome, que antigamente depositava-se nas aras misteriosas do por­vir. No Brasil, porém, não é ainda assim. Eu tenho — gra­ças a Deus, — o consolo de poder esperar pelo futuro em minha pátria!

Neste sonho sedativo da consciência, — seja uma ilusão embora, — adormecerei tranqüilo.

Entre tanto, — fervam os pensamentos da paixão. Os es­critos poéticos, que apresento, não foram formados em de­lírio. Entusiasmada raiva! que tenho eu contigo?

A hora da inspiração é um mistério de luz que passa inapercebível. Com tudo, eu tenho consciência de que, por mais etéreo que seja aquele momento, cantei tão-somente o que o imperativo da razão inspirava-me como justo. Não exclui, na verdade, o sentimento nestas composições a que presidia a solidão, porque ninguém o pode, — mas também não sou cabalmente um poeta. Há em mim alguma coisa de menos para completar o anjo das harmonias terrestre. Há, por ventura, a reflexão gelada de Montaigne, que apaga os ímpetos, que mata às vezes a mesma sublimidade. Klo­pstok, eu não posso acompanhar teus vôos!

Pelo lado da arte, meus versos, segundo me parece, as­piram a casar-se com a prosa medida dos antigos.

Sabe-se que os latinos modulavam os períodos do dis­curso. Sabe-se que os italianos, em seu século clássico, imi­taram miudamente aqueles, de quem tinham herdado a literatura. Sabe-se que os primeiros escritores portugueses cadenciavam igualmente suas construções. Sabe-se que, atingindo a música prosaica a uma perfeição absur­da, desterrou-se completamente do discurso todo o artifício. A versificação triunfou sobre as ruínas da prosa. Bocage deixa de ser poeta, para ser musico. A prosa tinha expi­rado.

Começa-se então a procurar um acordo. O modulo dos latinos, estudado e seguido pelos italianos, quase aperfeiçoado