pelos portugueses, tinha algum tanto de justo e de belo. A prosa recobrou os seus direitos.
Tudo isto traz com sigo algumas perguntas necessárias:
Até onde irá a melodia da prosa? Será a prosa um dia tão acabada de melodia, de ritmo, de harmonia mesma, que venha a ser inútil a música da forma poética? Chegará um dia a literatura a um tal grau, que distinga a prosa e a poesia tão-somente pelo nuance dos pensamentos? Nascerá um dia destas duas expressões mais ou menos belas uma forma intermediária, que espose tanto da singeleza da prosa, quanto do artifício da versificação? Será o futuro o mesmo que o passado, — e a prosa, em um circulo constantemente vicioso, voltará para a poesia, e a poesia de novo para a prosa? O Telêmaco de Fenelon, os Mártires de Chateaubriand, os Dramas modernos, os Romances mesmos de agora, que são porventura arremedos de epopéias, não se levantam, como brados majestosos, contra esta ultima hipótese? Teremos de viver continuamente no giro desesperador que descreveu o Eclesiastes? O que foi será o mesmo que há de ser em toda a sua amplitude, — ou aquele axioma sagrado admite restrições? Meu Deus! o vosso Cristo, descendo de vosso eterno e fecundo seio, não trouxe à humanidade alguma idéia nova, algum fato que inda não tivesse sido?
Presentemente, — cuido eu, — nem uma resposta pode dar-se a estas questões, se não uma dúvida. Pois bem: — meus versos representam esta hesitação, segundo penso. Procuram, a pesar meu, a naturalidade da prosa, e receiam desprezar completamente a cadência bocagiana.
Alem disto, a quem canta pela razão, e pouco talvez pelo sentimento, esta forma singela, quase não trabalhada, por ventura mais severa, é que melhor lhe pode convir.
O aspecto social, que parecem ter estas composições, obrigam-me ainda a não finalizar de súbito este prólogo.
O que cantas? — perguntar-me-ão.
O que podia eu cantar, encerrado nas muralhas solitárias de um claustro, ouvindo a cada hora os toques continuados de um sino que chama à oração, vendo uma turma de homens