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podia deixar de desagradar já anteriormente todo este negocio da machina volante, em que os escriptores mui de proposito fugiriam de tocar, com receio de incorrerem no desagrado d'aquelle temivel tribunal. Assım se explica lambem o serem posteriores a 1750 todas as noticias d'este facto (excepto algumas das poesias) que por via da imprensa chegaram até ao presente.

Temos registado grande variedade de opiniões sobre o logar em que se fez a experiencia. Esta incerteza e a escassez de noticias coevas fazem com razão duvidar de que ella tivesse grande publicidade.Se a apresentação do requerimento de Bartholomeu Lourenço e a fama dos trabalhos em que particularmente se occupava deram logar a que se escrevessem em 1709 tantas peças em verso e prosa, como as que temos publicado, que succederia se elle sahisse com o seu invento no Terreiro do Paço ou n'outro sitio, aonde o povo de Lisboa podesse concorrer? Os amigos e admiradores do inventor, sendo feliz a tentativa, não deixariam escapar tão boa occasião de o despicar das satyras e improperios dos seus inimigos e detractores ; sendo, pelo contrario, mal succedido não se ficariam estes ultimos sem renovar suas criticas e doestos. E, de um ou de outro modo, nem poetas nem alviçareiros deixariam de celebrar em verso ou prosa tão extraordinario acontecimento.

Muitos dos escriptores citados são conformes em referir a experiencia á Casa da India—Ferdinand Denis, Leitão Ferreira e os auctores da nota accrescentada á copia do Manifesto da Bibliotheca de Evora, do titulo posto na copia da petição do museu britanico, do folheto que se intitula : Descripção do novo invento1 aerostatico etc., e da memoria biographica do padre Gusmão. O auctor d'este ultimo escripto e Francisco Leitão Ferreira expressamente declaram que a experiencia foi feita na sala das embaixadas na Casa da India. O engano em que cahiu Leitão Ferreira no texto da Ephemeride e á margem corrigiu, mostra-nos que a expe-

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