Página:Invenção dos aeróstatos reivindicada.pdf/110

Wikisource, a biblioteca livre
—100—

Do primeiro principio se deduz que todo o corpo que tiver a conveniente extensão de superficie e a precisa velocidade, encontrará na atmosphera resistencia bastante para n'ella se sustentar e elevar. Assim as aves, os papagaios de papel e outros corpos mais pesados que o ar, mas que lhe offerecem grandes superficies e ao mesmo tempo se movem com velocidade, conservam-se distantes da terra e como desobedientes à força de gravidade qne na direcção do seu centro os attrahe.

Examinando agora as noticias que a historia nos apresenta dos diversos artificios imaginados para resolver o problema da navegação aerea, veremos que só aos aerostatos propriamente ditos se fez applicação do principio d'Archimedes. Pondo de parte as machinas extravagantes que os padres Lana e Galiano imaginaram, que nunca foram nem podiam ser experimentadas, por serem contrarios á boa physica os preceitos que para a sua construcção deram os proprios auctores, restam-nos unicamente a machina volante de Bartholomeu Lourenço de Gusmão e os balões de Montgolfier em sua primitiva simplicidade ou modificados pelos que posteriormente lhes quizeram augmentar a força ascensional ou tornal-os susceptiveis de direcção, applicando á sua fabrica, além do principio d'Archimedes, o outro de que fallámos. Pertence a esta ultima classe o apparelho do padre Gusmão. Das noticias que restam da experiencia se conclue que elle se servira do fogo para fazer subir a machina[1]. D'estas mesmas noticias e do Manifesto[2] se collige que por meio de corpos de superficies extensas, á maneira das azas das aves, tencionava dirigil-o na atmosphera.

Entre os auctores das noticis transcriptas no capitulo VI ha os seguintes que affirmam que a machina volante se elevara por meio do fogo que lhe applicava o seu inventor : 1.° Lenteires em 1795 ; 2.° Bocous em

  1. A pag. 81 e seg.
  2. A pag. 62 e seg.