Página:Invenção dos aeróstatos reivindicada.pdf/36

Wikisource, a biblioteca livre
—30—

e de Quevedo; todos faziam versos e tudo se escrevia em verso ; a nação parecia um vasto Parnaso. Abundam na Fenix Renascida no Postilhão d'Apollo e n'outras collecções impressas ou manuscriptas as provas do que dizemos.

São numerosas as poesias que temos colligido, concernentes á machina volante. E quem sabe as que se perderam e quantas virão ainda a apparecer? Todas ellas ridiculisam mais ou menos pungentemente a Bartholomeu Lourenço, o Voador. Nem admira que isto assim fosse em Portugal no principio do seculo passado, succedendo o mesmo em França oitenta annos depois a diversos aeronautas, e até a quem lá applicou primeiro que todos a força do vapôr á navegação, ao marquez de Jouffroy que alcunharam de Jouffroy la Pompe[1].

Entrámos em duvida se publicariamos ou não as poesias que se seguem destituidas, como são, de todo o merito e sem ministrarem mais que vagas allusões ao invento de que tractamos. Decidimo-nos a dar-lhes, ainda assim publicidade, não só como testemuoho geral e irrecusavel do facto, mas tambem por conterem alguns elementos que poderão aproveitar áquelles que, mais minuciosamente de que nós, quizerem traçar a biographia do auctor da machina volante.

1.a
Ao padre mestre B. Lourenço inventor da navegação do ar
SONETO

Icaro de baêta tonsurado
Andarim do diaphano elemento

  1. Cahiu em tal descredito o marquez de Jouffroy, por causa de suas experiencias, que na côrte de Versailles não se fallava d'elle senão como do fidalgo provinciano que embarcava nos rios bombas movidas por fogo ; do louco, que pretendia combinar o fogo com a agua etc.