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Que em Pacabote de não visto invento,
Queres ser pensamento, e dàs cuidado

Se ha basbaques que creiam de contado
Da volatil patranha o fundamento,
Eu tão leve não sou, que do teu vento
Nem sequer fie o fumo de um telhado.

Mas se affectas a fé do que apregôas,
Faze essa diabrura; que te aviso,
E terás mil applausos e corôas.

Mette esse invento adonde tens o sizo,
Vê se no vento que está n'elle, vôas;
Que outro voar meu Lourencinho é riso.[1]

  1. Este soneto e as sete peças que se seguem foram copiadas de um livro manuscripto da Bilbliotheca da Universidade de Coimbra. Tem no catalogo o numero d'ordem 342. É em 4.°, encadernado com o seguinte rotulo no dorso «Jardim historico» e fez parte de uma collecção de mais de trinta volumes, dos quaes só alguns se conservam n'aquelle archivo. Este a que alludimos é quasi todo da mesma lettra dos principios do seculo passado e consta de varios escriptos em prosa e verso, entre elles alguns dialogos de Francisco Manuel de Mello. Alem das oito poesias aqui transcriptas, contem o mesmo codice o «Manifesto» a que daremos logar no capitulo seguinte; uma descripção da machina volante que adiante tambem publicaremos, e uma longa satyra em prosa que começa assim: «Esta é a forma do artificio que ha de subir ao ar com tanta admiração de todos......» Todas estas peças são da mesma lettra que é tambem a da copia da petição já mencionada, com quanto este ultimo papel pertença a um codice differente que é um grosso volume in fol. como numero 674. Vê-se portanto que o mesmo individuo copiou todos estes papeis (os quaes ao todo são doze) na mesma epoca, que com razão reputaremos anterior áo principio d'agosto de 1709, em que Bartholomeu Lourenço fez a experiencia em presença da côrte, pois em coisa nenhuma se refere a este facto o diligente e curioso copista desconhecido. Alem d'isso a nota da petição, transcripta a pag. 18 d'este opusculo indica-nos que todos os alludidos documentos foram colligidos no tempo em que requereu e obteve o privilegio o auctor da machina volante e se occupava de a construir e aperfeiçoar.
    O mesmo 1.° soneto foi publicado no «Additamento» à sua Memoria por Francisco Freire de Carvalho nas «Actas das sessões da Academia real das sciencias» tom. 1.° pag. 209. E declara o citado Freire de Carvalho que lhe foi communicado pelo sr. Manuel Bernardes Lopes Fernandes.