Página:Invenção dos aeróstatos reivindicada.pdf/38

Wikisource, a biblioteca livre
—32—
2.a


Ao mesmo assumpto


SONETO


Veio na frota um duende brazileiro,
Em traje clerical, sotana e cr'ôa,
Fez crêr, que pelo ar navega, e vôa
N'um barco sem piloto e sem remeiro ;

Vae-se ao marquez de Fontes[1] mui ligeiro,
Declara-lhe o segredo, este o apregôa;
Sahe a consulta, pasma-se Lisboa,
E em tanto esquece a fome no Terreiro :

Bem merece este duende eterno assento
Na etherea região, eu já lhe approvo
A diabrura do subtil invento;

Pois um milagre fez, que é mais que novo
Em manter tantas boccas só de vento,
Fazendo um camaleão de tanto povo.[2]


3.a


Ao mesmo assumpto


SONETO


Com que invento queres baixo idiota,
Com que engenho te atreves brazileiro
A voar no ar sendo pateiro,
Desejando aguia ser, sem ser gaivota?

  1. Deverá talvez lêr-se «marquez d'Abrantes »
  2. Extrahido do cod. 342 da Bibl. da Univ. de Coimbra. Foi tamhem publicado em 1843 por Freire de Carvalho na Memoria citada.