Página:Invenção dos aeróstatos reivindicada.pdf/56

Wikisource, a biblioteca livre
—50—

De que voou fama vôa,
Já voou, e não á tôa
E em taes azas voou,
Sem embargo que as atou,
Que, apezar de boas cazas,
Para levar boas azas
Muita gente depennou.

Deu um vôo mui ligeiro,
Cruzando os ares ázado,
E foi vôo tão cruzado,
Que valeu muito dinheiro;
Não foi o vôo rasteiro,
Antes o mysterio encerra
Este vôo, e haver, que erra,
Em voar no seu trofeu,
Não da terra para o ceu,
Sim do ceu para Inglaterra.

Tanto em Lisboa voou
Com ligeireza opportuna,
Que com azas da fortuna
De Lisboa ao ceu chegou.
Do sol real divisou
O luzimento elevado,
Porém, por força do fado
E d'este vôo atrevido,
Se cá foi de el-rei valído
Já de o ser está privado,

Dizem praguentos selectos,
Com juizo superior,
Que fugiu o voador
Por juizos mui secretos.
Eu, apezar dos discretos,
Se não estou farto de vinho,
Creio que o caso adivinho,
E me resolvo a dizer