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habilitações scientificas muito superiores ás dos seus contemporaneos e compatriotas. Nem conhecemos até em portuguez outros escriptos scientificos do seculo passado, que na elegancia e perspicuidade do estylo lhe sejam comparaveis, senão os do padre Theodoro d'Almeida, que appareceram quarenta ou cincoenta annos depois.

O Manifesto não dá idéa dos meios, de que o autor pretendia servir-se para navegar pelo ar. O fim que teve em vista, escrevendo aquelle papel, foi unicamente mostrar que não havia razão para crêr innavegavel este fluido. A opinião publica manifestava-se contraria ás suas tentativas; convinha-lhe, pois rebater as asserções dos que lhe contestavam a possibilidade do invento. O modo porque o havia de praticar, esse era o seu segredo, que lhe importava encobrir em quanto não apresentasse em publico a nova machina. E por isso se limitaria a fazer suas considerações sobre o principio da resistencia do ar, que servira á construcção de todos os apparelhos antecedentemente conhecidos e experimentados. Que Bartholomeu Lourenço de Gusmão intentava soccorrer-se do principio d'Archimedes, a que não allude no Manifesto, é o que mais adeante provaremos pela experiencia que executou com o auxilio do ar dilatado por meio do fogo.

Advirta-se mais que o auctor do Manifesto n'elle declarou fallar só com o vulgo e não com os doutos e discursivos, sendo por tanto obrigado a pôr de parte todo o apparato scientifico e todas as considerações que por sua transcendencia não estivessem ao alcance da maior parte dos leitores.

N'uma das duas copias conhecidas d'este documento attribuiu-o o copista a Bartholomeu Lourenço, e parece-nos fóra de duvida este ponto. As expressões, nosso invento, nossa fabrica, nossa naveta etc. que se nos deparam a cada passo no Manifesto, bem claramente designam quem o escreveu, e da mesma sorte o seguinte periodo : Resta-nos agora advertir um absurdo