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pondo, que no mar succede o mesmo, porque tambem não tem constancia, ora se altera ora se abranda, e nem por isso deixa de se navegar, e não ha maior razão porque o tempêro que uma nau tem no mar, não tenha qualquer navegação no ar ; a nau no mar tem o governo no leme, o tempêro nas velas: uma e outra coisa temos no nosso invento. Uma nau é combatida dos ventos da mesma sorte, com que o póde ser o nosso artificio ; e comtudo resiste ás tempestades ou tomando as velas necessarias ou deixando-se ir com os ventos. Toda esta experiencia achâmos na ave. A ave quando vôa por vento rijo, ou lhe afrouxa as azas conforme a violencia, ou se deixa ir com elle seguindo-lhe o curso.

Temos outro exemplo mais palpavel : quem havia de dizer (se o não vira) que um homem se sustenta quasi no ar sómente com os pés em uma delgada maroma, e n'ella anda, corre e dansa, o que costuma fazer tanto em um' pateo com ar sereno, como em um campo com vento rijo, sem o vento lhe alterar a egualdade com que se move? A virtude d'isto está no pêso da vara, que contrapõe a inclinação do corpo, onde temo governo para a temperança do movimento.

Aqui me dirão que a nau acha corpo solido nas aguas, onde assenta o bojo ; e o volatim o acha na corda, onde estriba os pés ; e que as nossas navetas o não podem ter no ar, por ser (como temos dicto) um elemento raro, que, supposto que tenha corpo, é fluido e leve, que não tem sustancia sufficiente para per si suster as coisas : ao que respondo que se a nau se podéra sustentar nas velas (que para tal fim lhe não foram dadas) não lhe fôra necessario o descanço nas aguas. Se o volatim se podéra attrahir na vara, não usára do assento da corda, o que não milita no nosso caso, porque como nas azas ha de fazer descanso o nosso artificio (pela razão referida) no lhe é necessario assento solido, para encostar o corpo.

Dir-me-hão tambem que para tão grande pêso hão de ser necessarias muito grandes azas, e que aqui está

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