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é, porém, necessario ter muito conhecimento de physica ou de mechanica, para vêr que por estes principios é absolutamente impossivel o elevar-se uma machina volumosa e pesada : nem parece mesmo crivel, que uma pessoa, que aliás deu outras provas de intelligencia e de engenho, podesse jámais conceber a idêa de fazer voar uma machina de semelhante construcção. Como por outra parte ha uma constante tradição, apoiada com a auctoridade de varias pessoas sensatas e de provecta edade, que asseveram ter sempre ouvido que a machina, de que fallamos, chegára a elevar-se, e a voar ao menos por algum pequeno espaço; devemos crêr que ella fosse de outro modo construida, e que o desenho que agora vêmos não representa o artificio que então se practicou.


Esta mesma opinião expendeu em 1784 David Bourgeois n'um folheto intitulado—Recherches sur l'art de voler.[1] Todavia o visconde de Villarinho de S. Romão n'uma carta, dirigida ao sr. Antonio Feliciano de Castilho, e publicada em 1843 na Revista universal lisbonense, rejeitando por absurdas as explicações que precedem a estampa, e interpretando-a a seu modo, quiz mostrar que n'ella se acha tudo muito bem combinado e que a machina que representa podia voar. Segundo as suas supposições, no convez da barca não haveria nenhuns folles, mas um balão cheio de hydrogeneo ; as espheras em vez de servirem de caixas aos imans, conteriam os maleriaes necessairios para a producção do gaz ; a vela,

  1. «Recherches sur l'art de voler, depuis la plus haute antiquité jusqu'a ce jour, pour servir de supplément á la description des experiences aérostatiques de M. Faujas de Saint Fond, par David Bourgeois. » in 8.°, Paris 1784.
    Póde vêr-se na obra de Figuier—Les Merveilles de le science—o extracto do citado livro de Bourgeois, que foi quem primeiro suppoz que o Gusmão, que fez em Lisboa a experiencia aeronautica não era o Bartholomeu Lourenço, auctor do plano que consta do desenho de 1774.