Página:Iracema - lenda do Ceará.djvu/100

Wikisource, a biblioteca livre
- 80 -

— Vem; emquanto não pisares as praias dos Pytiguaras, tua vida corre perigo.

Martim seguio silencioso a virgem, que fugia entre as arvores como a selvagem acoty. A tristeza lhe roia o coração; mas a onda de perfumes que deixava na brisa a passagem da formosa tabajara, açulava o amor no seio do guerreiro. Seu passo era tardo, o peito lhe offegava.

Poty scismava. Em sua cabeça de mancebo morava o espirito de um abaetê. O chefe pytiguara pensava que o amor é como o cauim, o qual bebido com moderação fortalece o guerreiro, e tomado em excesso abate a coragem do heróe. Elle sabia quanto veloz era o pé do tabajara; e esperava o momento de morrer deffendendo o amigo.

Quando as sombras da tarde entristecião o dia, o christão parou no meio da mata. Poty accendeu o fogo da hospitalidade. A virgem desdobrou a alva rêde de algodão franjada de pennas de tucano e suspendeu-a aos ramos da arvore:

— Esposo de Iracema, tua rêde te espera.

A filha de Araken foi sentar-se longe, na raiz de uma arvore, como a cerva solitaria, que o