A dedicação de Magalhães também parecerá condescendente aos espíritos severos. Mas a que se não expõe a verdadeira amizade?
Na primeira ocasião que se lhe deparou, tratou Magalhães de perscrutar o coração da moça.
Era de noite; havia gente em casa. 0liveira estava ausente. Magalhães conversava com Cecília a respeito de um chapéu com que uma senhora idosa entrara na sala.
Magalhães fazia a respeito do chapéu mil conjecturas burlescas.
— Aquele chapéu, dizia ele, parece-me um ressuscitado. Houve naturalmente alguma epidemia de chapéus em que morreu aquele, acompanhado de outros seus irmãos. Aquele ressuscitou, para vir dizer a este mundo o que é o paraíso dos chapéus.
Cecília reprimia uma risada.
Magalhães continuava:
— Eu, se fosse aquele chapéu, pedia uma pensão como inválido e como raridade.
Isto era mais burlesco que picante, mais estúrdio que engraçado; todavia, fazia rir Cecília. Repentinamente, Magalhães ficou sério e consultou o relógio.
— Já se vai embora? perguntou a moça.
— Não, senhora, disse Magalhães.
— Guarde então o relógio.
— Admira-me que Oliveira ainda não viesse.
— Virá mais tarde. Os senhores são muito amigos?
— Muito. Conhecemo-nos desde crianças. É uma bela alma.
Houve um silêncio.
Magalhães cravou os olhos na moça, que olhava para o chão, e disse:
— Feliz aquela que o possuir.
A moça não revelou a menor impressão ao ouvir estas palavras de Magalhães. Ele repetiu a frase, e ela perguntou se não seriam horas de tomar chá.
— Já amou, D. Cecília? perguntou Magalhães.
— Que pergunta é essa?
— É uma curiosidade.
— Nunca amei.
— Por quê?
— Sou muito criança.
— Criança!