— Tolices?
— Mais que tolices; sê forte!
Magalhães abanou a cabeça.
— Não custa aconselhar fortaleza, murmurou ele; mas quem tem sofrido como eu...
— Já não contas com os amigos?
— Os amigos não podem tudo.
— Muito obrigado! Eu te mostrarei, se podem.
— Não te iludas, Oliveira; não te esforces a favor de um homem que a sorte condenou.
— Histórias!
— Sou um condenado.
— És um fracalhão.
— Acreditas que eu...
— Acredito que és um fracalhão, e que não pareces aquele mesmo Magalhães que sabe conservar o sangue frio em todas as ocasiões graves. Descansa, eu tirarei desforra brilhante. Antes de quinze dias estarás empregado.
— Não creias...
— Desafias-me?
— Não; bem conheço de que é capaz teu coração nobre e generoso... mas...
— Mas o quê?
Receio que a má fortuna seja mais forte do que eu.
— Verás.
Oliveira deu um passo para a porta.
— Nada disso impede que venhas jantar comigo, disse ele, voltando-se para Magalhães.
— Obrigado; já jantei.
— Anda ao menos comigo para ver se te distrais.
Magalhães recusou; mas Oliveira insistiu com tão boa vontade que não havia recusar.
Durante a noite seguinte meditou Oliveira acerca do negócio de Magalhães. Tinha amigos importantes, os mesmos que forcejavam por lhe abrir carreira política. Oliveira pensou neles como os mais próprios para levar a cabo a obra de seus desejos. O grande caso para ele era empregar Magalhães, em cargo tal que despicasse da prepotência ministerial. O substantivo prepotência era a exata expressão de Oliveira.
Não lhe ocultaram os amigos que o caso não era fácil; mas prometeram que a dificuldade