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A M’boi-tátá

I

 

Foi assim:
num tempo muito antigo, muito, houve uma noite tão comprida que pareceu que nunca mais haveria luz do dia.

Noite escura como breu, sem lume no céu, sem vento, sem serenada e sem rumores, sem cheiro dos pastos maduros nem das flores da mataria.

Os homens viveram abichornados, na tristeza dura; e porque churrasco não havia, não mais sopravam labaredas nos fogões e passavam comendo canjica insôssa; os borralhos estavam se apagando e era precizo poupar os tições...

Os olhos andavam tão enfarados da noite, que, ficavam parados, horas e horas, olhando, sem ver as brazas vermelhas do nhanduvai... as brazas somente, porque as faiscas, que alegram, não saltavam, por falta do sopro forte de bocas contentes.

Naquella escuridão fechada nenhum tapejára seria capaz de cruzar pelos trilhos do campo, nenhum fléte crioulo teria faro nem ouvido nem vista para bater na querencia; até nem sorro daria no seu proprio rastro!

E a noite velha ia andando... ia andando...

II

 

Minto:
no meio do escuro e do silencio morto, de vez enquando, ora duma banda ora doutra, de vez