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cachoeira grande, de sete saltos, chamada de Iguaíra...

Tudo isto eu media e pesava e contava, até cair de cansaço; e mal que respirava um descanso, de novamente, de novamente pegava a contar, a pesar, a medir...

Tudo isto eu podia ter — e tinha, de meu, tinha! —, porque era dono da teiniaguá, que estava presa dentro da guampa, fechada na canastra forrada de couro cru, taxeada de cobre, dobradiças de bronze!...

Aqui ouvi o sino da torre badalando para a oração da meia-tarde...

Pela primeira vez não fui eu que toquei: devia ser um dos padres, na minha falta.

Todo o povo sesteava, por isso ninguém viu.

Voltei a mim. Lembrei-me de que o animalzinho precisava alimento.

Tranquei portas e janelas e saí para buscar um porongo de mel de lechiguana, por ser o mais fino.

E fui; melei; e voltei.

Abri sutil a porta e tornei a fechá-la ficando no escuro.

E quando descerrei a janela e andei para a canastra a tirar a guampa e libertar a teiniaguá para comer o mel, quando ia fazer isso, os pés se me enraizaram, os sentidos do rosto se ariscaram e o coração mermou no compassar do sangue!...

Bonita, linda, bela, na minha frente estava uma moça!...

Que disse:

IV

— Eu sou a princesa moura encantada, trazida