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O silêncio que então se desdobrou era como o vôo parado das corujas: metia medo...

VII Blau Nunes foi andando.

Entrou na boca da toca apenas aí clareada e isso pouco, por causa da ramaria que se cruzava nela; p’ra o fundo era tudo escuro...

Andou mais, num corredor dumas braças: mais, ainda; sete corredores ancião deste.

Blau Nunes foi andando.

Enveredou por um deles; fez voltas e contravoltas, subiu, desceu. Sempre escuro. Sempre silêncio. Mãos de gente, sem gente que ele visse, batiam-lhe no ombro.

Numa cruzada de carreiros sentiu ruído de ferros que se chocavam, tinir de muitas espadas, seu conhecido.

Por então o escuro ia já mudado num luzir de vaga-lume.

Grupos de sombras com feitio de homens pelavam de morte; nem pragas nem fuzilar d’olhos raivosos, porém furiosos eram os golpes que elas iam talhando umas nas outras, no silencio.

Blau teve um relance de parada, mas atentou logo no dizer do vulto de face branca e tristonha — Alma forte, coração sereno...

E meteu o peito por entre o espinheiro, sentiu o corte delas, o fino das pontas, o redondo dos copos... mas passou, sem nem olhar aos lados, num entono, escutando porém choros e gemidos dos peleadores.

Mãos mais leves bateram-lhe no ombro, como carinhosas e satisfeitas.