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chata e tremente... e passou, ouvindo o chocalho da que não perdoa, o silbido da que não esquece...

E logo então, que era este o quinto passo de valentia que vencera sem temer — de alma forte e coração sereno — logo então as mãos voantes anediaram-lhe o cabelo, palmearam-lhe mais chegadas os ombros.

Blau Nunes foi andando.

Desembocou num campestre, de gramado fofo, que tinha um cheiro doce que ele não conhecia; em toda a volta arvores enfloradas e estadeando frutos; passarinhada de penas vivas e cantoria alegre; veadinhos mansos; capororocas e outro muito bicharedo, que recreava os olhos; e listando a meio o campestre, brotado duma roca coberta de samambaias, um olho d’água, que saía em toalha e logo corria em riachinho, pipocando o quanto-quanto sobre areião solto, palhetado de malacachetas brancas, como uma farinha de prata...

E logo uma roda de moças — cada qual que mais cativa! — uma ronda alegre saiu dentre o arvoredo, a cercá-lo, a seduzi-lo, a ele Blau, gaúcho pobre, que só mulheres de anáguas resvalonas conhecia...

Vestiam-se em frouxo trançado de flores, outras de fios de contas, outras na própria cabeleira solta...; estas chegavam-lhe à boca caramujos estrambóticos, cheios de bebida recendente e fumegando entre vidros frios, como de geada; dançavam outras num requebro marcado como por música... outras lá, acenavam-lhe para a lindeza dos seus corpos, atirando no chão esteiras macias, num convite aberto e ardiloso...

Porém ele meteu o peito e passou, com as frontes golpeando, por motivo do ar malicioso que seu bofe respirava...;

Blau Nunes foi andando.